top of page

Na República das Ilhas Fiji, país da Oceania composto por 332 ilhas, há uma curiosidade em particular que pode nos ajudar hoje. Nas ilhas mais afastadas, há uma aldeia de aborígenes ainda sem contato com o homem branco. Os Worora fabricam um tipo de cerâmica chamada lapita, se locomovem de uma ilha para outra a nado, possuem uma marca H17 no cromossoma X e, não se sabe porque, todos os descendentes possuem um pulmão 19% maior que a média humana. 

 

O mais curioso para nós é que eles acreditam que os afetos humanos vivem no pulmão - como muitos ocidentais creditam ao coração e os gregos cogitaram essa função ao fígado. É nos pulmões em que os sentimentos e as emoções nascem e permanecem dentro de seus corpos. Através da respiração, eles conduzem a retirada de maus pensamentos que intoxicam seus corpos para, assim, inspirar novos afetos. Muitos desses sentimentos não foram catalogados e são impossíveis de traduzirmos, não temos palavras para descrevê-los em nenhum idioma conhecido. A expiração permite expulsar, além de também ser uma ação de dividir com o mundo ou com o outro a corrente boa de ar que te habitou. Podemos jogar para a natureza, os filhos, as mães, nossos seres amados. 

 

Essa aldeia coabita três ilhas. Na central, os Worora dormem e fazem suas funções cotidianas, em outras duas fazem seus rituais sagrados, poderíamos traduzi-las como ilha da Deusa da Vida e ilha da Deusa da Morte. Hoje, falaremos da ilha da Deusa da Vida. 

 

Ao atingir certa idade, o pequeno Worora é enviado à ilha sagrada. Em sua primeira visita, acontece o rito de passagem para a vida adulta. Inicia-se ao transformar o tronco de uma árvore em abrigo, alimentando-se apenas de insetos, pequenos animais ou pedaços da própria árvore. O ritual dura em média 29 dias, só conclui no momento que a última folha da árvore cai. São dias inteiros sentindo picadas insuportáveis dos insetos. Desenvolvemos formas de atrair os bichos para nos alimentarmos, nas primeiras vezes até o vômito é inevitável. Se é dia ou noite, pouco sabemos, acordados ou dormindo, passamos o dia inteiro sonhando e tendo pesadelos. É no momento que a última folha toca a nossa pele que despertamos, é como se aquela árvore morresse para viver dentro desse novo adulto.

 

Quando passamos por esta terrível sequência de testes, somos considerados aptos a participar das caçadas, das festas e dos rituais religiosos. O verdadeiro ritual é a descoberta de como resistir sem gritar, sem chorar ou sem lamentar. A purificação do pulmão torna os Worora sadios para resistirem aos obstáculos de sua vida como guerreiras e guerreiros. 

 

Sentir a última folha tocando a pele exausta é o primeiro fôlego para entender que a Deusa da Vida não é inimiga da Deusa da Morte. Duas faces da mesma ilha. Essa segunda face, esse segundo ritual de passagem só será vivido anos depois, talvez décadas. A ilha é a Deusa.

cinza-linha-branca.png
cinza-claro-linhabranca.png
bottom of page